Huawei Mate XT Ultimate: testei o celular mais caro do Brasil; vale R$ 33 mil?
O Huawei Mate XT Ultimate Design estreou globalmente em setembro de 2024 como o “primeiro celular trifold do mundo”. Quase um ano depois, em junho de 2025, ele desembarcou no Brasil carregando não só esse título, mas também o de smartphone mais caro do país, com o preço impressionante de R$ 33 mil. Com três telas, o modelo impressiona à primeira vista por virar um tablet de até 10,2 polegadas e pelo design ultrafino de apenas 3,6 mm — um trabalho de engenharia de ponta.
Por outro lado, a falta de 5G e a presença de um processador de apenas 7 nanômetros (nm) — quando muitos modelos intermediários já trazem chipsets de 4 nm — mostram que, apesar de inovador, o celular de R$ 33 mil está longe de ser perfeito. Diante de um valor tão alto, que permite comprar desde motos até viagens de quatro pessoas para Fernando de Noronha, é natural se perguntar: o Huawei Mate XT Ultimate vale tudo isso? Passei duas semanas com o celular trifold e conto neste review como é usar um aparelho tão diferente no dia a dia. Continue a leitura para descobrir os prós e contras do celular mais caro do Brasil.
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Esse é o celular MAIS CARO do Brasil; veja unboxing
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Índice
Ficha técnica do Huawei Mate XT Ultimate
Design ⭐⭐⭐⭐
Telona fascinante, mas pouco útil ⭐⭐⭐⭐
Câmeras versáteis, mas não surpreendem ⭐⭐⭐
Desempenho abaixo do esperado ⭐⭐⭐
Bateria grande, mas não para um phablet ⭐⭐⭐
EMUI 14: uma interface funcional, mas que não empolga ⭐⭐⭐
Google Play Store, gambiarras e segurança ⚠️
Vale a pena gastar R$ 33 mil no Mate XT Ultimate?
Ficha técnica do Huawei Mate XT Ultimate
Tamanho da tela: 6,4 polegadas (quando em tela única), 7,9 polegadas (quando em tela dupla) e 10,2 polegadas (quando totalmente aberto).
Resolução da tela: Tela única com 2232 × 1008 pixels; tela dupla com 2232 × 2048 pixels; e tela tripla com 2232 × 3184 pixels
Painel da tela: OLED com 90 Hz
Câmera principal: tripla, de 50 MP + 12 MP + 12 MP
Câmera frontal: 8 MP
Sistema: EMUI 14.2
Processador: Kirin 9010 (7 nm), oito núcleos de até 2,3 GHz
Memória RAM: até 16 GB
Armazenamento: até 1 TB
Cartão de memória: não
Capacidade da bateria: 5.600 mAh
Peso: 298 gramas
Dimensões: 156,7 x 73,5 x 12,8 mm (tela única); 156,7 x 143 x 7,45 / 4,75 mm (tela dupla); 156,7 x 219 x 3,6 mm / 3,6 mm / 4,75 mm (tela tripla)
Cores: vermelho e preto
Lançamento: 17 de junho de 2025
Preço de lançamento: R$ 32.999
Design elegante e ultrafino ⭐⭐⭐⭐
Meu primeiro contato com o Huawei Mate XT Ultimate foi no evento de lançamento do celular, em junho. Eu já sabia o quão fino ele é, mas isso não me impediu de me impressionar de novo com a espessura de impressionantes 3,6 milímetros (mm) ao tirá-lo da caixa — e que caixa! — totalmente aberto. O unboxing foi sensação aqui na redação do TechTudo, e todo mundo ficou um pouco inseguro ao pegar um celular tão fino — imagina se atrapalhar e derrubar R$ 33 mil no chão!
Fechado, o Huawei Mate XT Ultimate tem 12,8 mm e não é exatamente confortável de segurar. Apesar de ele ser bem mais espesso que um celular de barra tradicional (meu iPhone 15, por exemplo, tem 7,8 mm), eu considero a espessura razoável para um trifold. Para fins de comparação, o Galaxy Z Fold 6, modelo fold tradicional lançado em 2024 pela Samsung, tem 12,1 mm. Nesse sentido, a Huawei realmente fez uma maravilha da engenharia.
Lateral do Huawei Mate XT (com marca)
Ana Letícia Loubak/TechTudo
Além de ultrafino, o trifold é elegante: a traseira com acabamento em couro vegano e as bordas douradas dão um toque de sofisticação ao celular. Ele ainda vem com uma capinha com suporte, que permite apoiar o celular em superfícies como mesas — algo bastante útil na hora de assistir a filmes na telona de 10,2 polegadas, por exemplo.
Apesar da espessura slim, o Mate XT Ultimate tem dobradiças bem firmes, o que transmite segurança na hora de abrir e fechar o celular. Por outro lado, não há nenhum tipo de proteção contra entrada de poeira ou de água, especificação que aparece em outros modelos fold.
Traseira do Huawei Mate XT (com marca)
Ana Letícia Loubak/TechTudo
Tela ⭐⭐⭐⭐
Quando completamente fechado, o Huawei Mate XT Ultimate exibe uma tela OLED de 6,4 polegadas. Ao abrir o smartphone pela primeira vez, o painel se expande para 7,9 polegadas — tamanho de um modelo fold convencional. Mas é ao abrir o celular por completo que ele se transforma em um tablet e revela uma tela de impressionantes 10,2 polegadas e resolução 3K.
De primeira, todo mundo se atrapalha um pouco até aprender a desdobrar o Mate XT da forma certa, mas o sistema exibe avisos na tela para ajudar. Também não demorei muito até me acostumar com o vinco, que é bastante marcado e fica ainda mais evidente ao visualizar conteúdos no modo claro. Mas vale dizer que esta não é a minha primeira experiência com dobráveis — já testei modelos fold e flip, então vinco não é exatamente uma questão para mim.
Tela Huawei Mate XT tem vinco bem marcado
Ana Letícia Loubak/TechTudo
As transições entre as telas única, dupla e tripla são suaves, assim como a reprodução de conteúdo, graças à frequência de 90 Hz. Aliás, assistir a vídeos na telona do Huawei Mate XT Ultimate é uma experiência ótima, não só pelo tamanho generoso do display, mas também pela vivacidade das cores reproduzidas.
Tela do Huawei Mate XT tem 10,2 polegadas quando o celular está totalmente aberto
Ana Letícia Loubak/TechTudo
Acontece que, pelo menos para mim, ter uma terceira tela foi útil em mais… nada. É muito legal ter um celular que vira tablet, mas nem todo mundo precisa disso. Existem, é claro, algumas tarefas que ficam mais fáceis quando feitas em uma tela grande, como edição de vídeos, mas acredito que, mesmo para multitarefas, a tela de 7,9″ já seria suficiente. Aliás, a EMUI só permite manter duas janelas abertas mais uma janela flutuante — o que eu considero um desperdício de espaço.
Tela do Huawei Mate XT tem 6,4″ quando o celular está fechado
Ana Letícia Loubak/TechTudo
Câmera ⭐⭐⭐
O conjunto de câmeras do Huawei Mate XT Ultimate é bastante versátil, mas entrega resultados um pouco frustrantes para o celular mais caro do Brasil. Veja abaixo como o sistema está organizado.
Câmera principal de 50 MP com abertura variável de f/1.4-f/4.0;
Câmera ultrawide de 12 MP com abertura de f/2.2;
Câmera teleobjetiva de 12 MP com abertura de f/3.4 e zoom óptico de 5,5x;
Câmera frontal de 8 MP com abertura de f/2.2;
A câmera principal de 50 MP captura fotos muito ricas em detalhes, com cores um pouco mais saturadas que a realidade, mas em um nível que não chega a incomodar e pode até mesmo agradar alguns. O que incomoda mais é o contraste, que tende a ser exagerado na maioria das fotos — ainda que isso não prejudique o alcance dinâmico. Um recurso interessante da lente principal é a abertura variável, que permite ter maior controle sobre o bokeh.
Botão de rosa; foto registrada pelo Huawei Mate XT Ultimate com abertura variável: de f/4.0 a f/1.4
Ana Letícia Loubak/TechTudo
A câmera teleobjetiva também entrega fotos de boa qualidade e cores vívidas, mas sofre com o mesmo exagero no contraste. Além disso, existe uma dificuldade com o foco quando os objetos estão menos distantes, e a câmera parece ter dificuldades quando as condições de iluminação não são ideais. O mesmo acontece com a câmera ultrawide, cujas fotos são satisfatórias, mas não empolgam.
Apesar da baixa resolução, a câmera frontal entrega selfies surpreendentemente boas, tanto em termos de detalhes quanto de fidelidade de cores. Ainda assim, vale a pena dobrar o celular no modo fold para conseguir aproveitar a qualidade das câmeras traseiras. O mecanismo não é tão confortável quanto num dobrável do tipo flip, mas você acostuma.
Desempenho ⭐⭐⭐
O Mate XT Ultimate vem com o Kirin 9010, um processador octa-core de fabricação própria da Huawei com frequência de até 2,3 GHz e litografia de 7 nanômetros (nm). O número está muito aquém de chipsets como o Snapdragon 8 Elite e o Apple A18 Pro, que têm 3 nm e equipam celulares topo de linha como Galaxy S25 Ultra e iPhone 16 Pro Max, respectivamente.
⚠️ Vale lembrar que a litografia do chip, medida em nanômetros (nm), representa a distância que os elétrons percorrem entre os transistores. Quanto menor for esse número, mais ágil e eficiente é o chip. Isso porque distâncias menores reduzem o consumo de energia e o calor gerado, o que impacta positivamente a autonomia da bateria.
No dia a dia, o desempenho do Huawei Mate XT foi muito bom. Com 16 GB de memória RAM, ele não travou ou engasgou durante o uso de aplicativos de streaming, edição de vídeo e redes sociais, e também rodou jogos leves com fluidez.
Huawei Mate XT tem desempenho abaixo do esperado
Ana Letícia Loubak/TechTudo
Mas, quando partimos para os testes de benchmark, os resultados são decepcionantes. O celular marcou apenas 873.240 pontos no AnTuTu, o que é ótimo para um intermediário premium de R$ 1.800, como o Galaxy A56 (884.363), mas ultrajante para um aparelho de R$ 33 mil. Por esse valor, nada abaixo de 2 milhões — pontuação de concorrentes como Honor Magic V3 (2,2 milhões) e Galaxy Z Fold 7 (2,6 milhões) — seria aceitável.
Bateria ⭐⭐⭐
A bateria do Huawei Mate XT Ultimate é de silício-carbono e tem 5.600 mAh. Essa capacidade, maior que a média de mercado, seria suficiente para quase qualquer celular de barra, mas levanta suspeitas sobre autonomia no trifold — que é um tablet com bateria de smartphone.
Não adotei o Mate XT Ultimate como meu celular principal ao longo dos testes, mas o usei bastante para consumir conteúdo. Assistindo a vídeos no YouTube em 4K na tela de 10,2 polegadas com brilho no máximo, por exemplo, o celular levou 6h45 para ir de 100% a 20%, nível já considerado crítico.
Huawei Mate XT Ultimate tem bateria de 5.600 mAh
Ana Letícia Loubak/TechTudo
Em cenários de uso moderado, com consultas esporádicas às redes sociais, consumo ocasional de vídeos e navegação, o trifold aguenta até o fim do dia sem precisar de recarga. O celular vem com um carregador de 66W, potência que leva o aparelho de 0 a 100% em cerca de 1 hora e 20 minutos.
Sistema e recursos ⭐⭐⭐
Por conta de restrições impostas pelos Estados Unidos, a Huawei não pode usar Android puro em seus celulares, nem serviços do Google, como a Google Play Store. A solução encontrada para o Huawei Mate XT Ultimate foi a EMUI 14.2, uma interface baseada no código aberto do Android e roda sem os aplicativos da Gigante de Buscas.
A interface é fácil de usar e tem algumas otimizações interessantes. Por exemplo, o software consegue distinguir com qual mão você está segurando o celular totalmente aberto, e abre o teclado de desbloqueio na extremidade direita ou esquerda da tela. Além disso, todos os aplicativos testados rodaram muito bem na telona de 10,2 polegadas.
Huawei Mate XT Ultimate vem com interface EMUI 14.2
Ana Letícia Loubak/TechTudo
De resto, porém, nada empolga. Não há features inovadoras, e até o recurso de “gestos aéreos”, comum em interfaces de outras empresas chinesas, falha em obedecer aos comandos. Existe um apagador de objetos, só que ele também não funciona bem.
Mas o meu maior incômodo mesmo é o fato de a EMUI 14.2 não ter gaveta de apps: todos os aplicativos ficam amontoados na tela inicial, e não é possível removê-los. A única forma de tirar os ícones de lá é desinstalar os apps ou uni-los em pastas — o que não resolve muita coisa, e ainda pode deixar a organização mais confusa. Isso sem falar no fato de que a EMUI vem cheia de “tranqueiras” instaladas — são os chamados bloatwares, muito comuns em interfaces de fabricantes chinesas.
Google Play Store, gambiarras e segurança ⚠️
Para quem se pergunta se o Mate XT Ultimate roda os principais aplicativos do mercado, a resposta é sim. A Huawei tem sua própria loja de aplicativos, a App Gallery, e é possível baixar apps populares como TikTok, Instagram e SHEIN por lá. Para outros, como a Netflix, é preciso fazer o download do GBox, um aplicativo que emula a Google Play Store.
Mas essa solução levanta questões sobre segurança. Para emular a loja do Google e burlar as restrições, o GBox finge ser um outro dispositivo Android. Nos meus testes, a conta Google acusou o login de um aparelho “desconhecido”, de forma que eu não consegui verificar que modelo é esse, nem se ele ainda recebe atualizações regulares de segurança, por exemplo.
Procurei a Huawei para entender se a empresa tem algum tipo de participação no desenvolvimento, distribuição ou suporte do GBox, e se o aplicativo é seguro. Em nota, a fabricante respondeu que as soluções de terceiros disponíveis na App Gallery, que funcionam como ponte para aplicações ainda não presentes na loja, “passam por um processo de validação técnica rigoroso, em conformidade com os mais altos padrões globais de privacidade e segurança da Huawei”.
Vale a pena gastar R$ 33 mil no Mate XT Ultimate?
O Huawei Mate XT Ultimate é, sem dúvidas, uma maravilha da engenharia. Ser o primeiro trifold do mundo já o coloca em um patamar histórico no mercado de smartphones, e fica claro que a Huawei quis mostrar, com este modelo, até onde consegue chegar — mesmo sob fortes restrições impostas pelos Estados Unidos. O design ultrafino, as três telas e a qualidade da construção impressionam e mostram o quanto a marca não está no mercado para brincar.
Mas, olhando para ele como um produto para o consumidor final, o cenário muda bastante. O preço altíssimo de R$ 33 mil por si só já dificulta qualquer recomendação. Além disso, o Mate XT Ultimate não tem 5G e ainda entrega um desempenho abaixo do esperado para um modelo desse nível de preço — inclusive nos testes de benchmark, nos quais perde feio para concorrentes diretos.
No fim, o Mate XT Ultimate parece menos um produto para vender e mais uma estratégia de posicionamento de mercado. É a Huawei dizendo: “Olha o que conseguimos fazer, mesmo com todas as barreiras”. Para entusiastas de tecnologia com dinheiro de sobra que querem ter uma peça inovadora nas mãos, ele pode fazer sentido. Para o consumidor comum, porém, o investimento é impensável, especialmente quando há dobráveis mais completos, potentes e muito mais acessíveis no mercado.
⭐ Nota final: 3,3 estrelas