Como usar IA com crianças sem riscos? Veja guia para pais e educadores


A inteligência artificial não é mais um “futuro distante”. Ela já está presente no dia a dia, inclusive de crianças e adolescentes, muitas vezes de formas mais próximas do que muitos pais imaginam. Seja nos brinquedos que conversam e aprendem com o usuário ou nos aplicativos usados para estudar ou se divertir, a tecnologia vem moldando como os jovens aprendem, brincam, se comunicam e até constroem suas relações.
Ferramentas com IA, portanto, já influenciam a educação, o lazer e as interações sociais de crianças e adolescentes, trazendo oportunidades, mas também desafios para pais e educadores. Veja a seguir os riscos do uso de inteligência artificial por crianças e adolescentes, e opinião de especialista.
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Como usar IA com crianças sem riscos? Veja guia para pais e educadores
Reprodução/GettyImages (Justin Paget)
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No cotidiano, a IA aparece em diferentes situações. Brinquedos inteligentes como pelúcias interativas conseguem conversar e criar vínculos afetivos com as crianças. Alto-falantes como a Alexa já são “amigos de conversa” para muitos pequenos, que contam histórias e segredos para o dispositivo sem perceber os riscos de privacidade envolvidos. Na escola, ferramentas de IA ajudam na hora de pesquisar fatos, escrever redações ou até corrigir textos. E, entre os adolescentes, ela também marca presença na criação de vídeos, imagens e posts para redes sociais.
Riscos do uso de IA por menores de idade
Apesar de estar profundamente presente no dia a dia, o uso de inteligência artificial por crianças traz diversos riscos que pais e educadores precisam conhecer. Entre os mais graves está a erosão da privacidade e a coleta de dados. Brinquedos e assistentes virtuais registram microfones, câmeras, gestos e conversas das crianças, podendo compartilhar essas informações com terceiros.
A gerente de Desenvolvimento e Soluções do Itaú Social, Sonia Dias, explica que, especialmente as crianças que estão no processo de alfabetização, precisam de atenção redobrada por parte de pais e educadores para evitar qualquer impacto no desenvolvimento e na saúde emocional. Além disso, Sonia ressalta alguns perigos em torno da disseminação da IA. “A inteligência artificial, principalmente a generativa, tem suscitado a atenção mundial pelo potencial de uso indevido, que pode gerar deepfakes, fake news, desrespeito a direitos autorais, propagação de discursos de ódio e exposição de informações privadas e sensíveis de pessoas e empresas”, afirma.
Outro risco significativo é a manipulação emocional e comportamental. IAs podem se tornar influentes na formação de valores, opiniões e comportamentos, muitas vezes de forma mais próxima que os próprios pais. Casos recentes mostram que chatbots podem fornecer instruções perigosas ou validar pensamentos prejudiciais. Nos Estados Unidos, os pais de Adam Raine, de 16 anos, processaram a OpenAI após alegarem que o ChatGPT orientou o filho em métodos de autoagressão e até ofereceu ajuda para redigir uma nota de suicídio. Em outro exemplo, a Meta, dona do Instagram e Facebook, teve documentos internos revelando que seus assistentes de IA poderiam envolver crianças em conversas românticas ou sensuais, além de gerar informações médicas falsas e reproduzir discursos de ódio.
Por isso, Dias destaca que é fundamental que o acesso das crianças à Internet seja sempre mediado por adultos responsáveis, como pais ou professores. “No entanto, muitos enfrentam dificuldades para orientar esse uso de forma adequada. De acordo com relatório do Itaú Social, em parceria com a OCDE, apenas 23% dos brasileiros são capazes de realizar tarefas digitais básicas”, complementa.
Apesar de possuir salvaguardas, as IAs podem fornecer resultados com preconceitos ou que reforçam discurso de ódio
Reprodução/Pixabay
Outro ponto de atenção são as mensagens de venda e publicidade direcionada, que exploram dados das crianças para campanhas contínuas, incentivando consumo precoce ou indevido. No Brasil, plataformas de educação digital chegaram a coletar dados de estudantes durante o ensino remoto para personalizar anúncios, evidenciando como a exposição pode ser silenciosa e persistente.
Além disso, há conteúdo impróprio e perigoso que pode afetar o desenvolvimento emocional e social. A IA pode criar imagens violentas, deepfakes e material manipulativo, expondo crianças a situações de assédio ou pressão psicológica. O uso de IA também reproduz preconceitos e estereótipos, refletindo vieses presentes na Internet, e pode gerar dependência digital ou uma percepção distorcida da realidade.
O que fazer para minimizar os riscos?
Diante dos riscos da inteligência artificial, os pais e educadores têm um papel fundamental na proteção das crianças. Uma das primeiras medidas é controlar o acesso e o uso da tecnologia: desativar câmeras, microfones e recursos de coleta de dados em brinquedos e dispositivos conectados, verificar as políticas de privacidade e atualizar regularmente os softwares. Também é importante monitorar e participar das interações digitais, experimentando junto com as crianças o funcionamento de apps e assistentes de IA, para explicar como funcionam e quais são os riscos.
É recomendado ter controle dos dispositivos utilizados por crianças para diversão ou estudo
Reprodução/Tima Miroshnichenko
Outro ponto é educar sobre segurança, privacidade e comportamento online. Conversas abertas ajudam os filhos a compreenderem a diferença entre interações reais e digitais, a identificar preconceitos, a lidar com bullying e a gerenciar informações pessoais, como cookies e histórico de navegação. Pais devem incentivar o pensamento crítico e a criatividade, mostrando que a IA é uma ferramenta de apoio e não uma autoridade absoluta.
Além disso, priorizar a interação humana continua sendo essencial. Jogos, refeições em família, conversas e brincadeiras criativas ajudam a desenvolver habilidades sociais e valores, sem depender exclusivamente da tecnologia. Para crianças menores, brinquedos simples que estimulam a imaginação própria são mais seguros e eficazes do que dispositivos altamente programáveis.
“Uma das recomendações da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) para o desenvolvimento integral das crianças é o incentivo à interação com os colegas e com o ambiente. […] A Internet se apresenta como um espaço repleto de estímulos visuais e sonoros que, embora atrativos, muitas vezes reduzem o tempo destinado às interações presenciais. Esse desequilíbrio pode resultar em isolamento social, sentimentos de insegurança, alienação e até problemas relacionados à saúde mental”, explica Dias.
Com informações de G1 1, 2, Instituto Pensi e Itaú Social.

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