Morro do Cantagalo vira palco de torneio de esports – e eu fui lá assistir
A Copa AfroGames é o campeonato de esports organizado pelo AfroReggae, que reúne jovens de diferentes comunidades da região metropolitana do Rio de Janeiro. A terceira edição da competição aconteceu no último mês de agosto e se consagrou como o maior torneio de jogos eletrônicos já realizado em comunidades no Brasil até hoje. Disputas de Valorant, Free Fire e Fortnite reuniram competidores vindos de diferentes comunidades do estado do Rio de Janeiro, como Maré, Vigário Geral, Mandela e Salgueiro (São Gonçalo). No dia 29 de agosto, cerca de mil pessoas estavam na Arena AfroGames, no Morro do Cantagalo, para acompanhar as finais do campeonato – e eu, repórter do TechTudo João Marcelo, fui até lá assistir às disputas.
Criado pelo AfroReggae, o programa AfroGames mantém seis centros de treinamento em favelas do Rio e atende mais de 500 adolescentes com cursos de esports, Criação e Design de Games, entre outras áreas. Conversamos com o diretor executivo do AfroReggae, Danilo Costa, para entender como o projeto atua nas comunidades. Afinal, torneios de videogames podem, realmente, promover inclusão e desenvolvimento social?
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Equipe AFG Timbau, do Morro do Timbau, favela localizada no Complexo da Maré, comemorando o título de Valorant na Copa AfroGrames
Divulgação/AfroReggae
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O que é a Copa AfroGames?
A Copa AfroGames é o campeonato de esports organizado pelo AfroReggae. A terceira edição da competição aconteceu no dia 29 de agosto de 2025, na Arena AfroGames, localizada no alto do Morro do Cantagalo — favela que fica na Zona Sul do Rio de Janeiro. “A Copa AfroGames é um entretenimento inclusivo, pois dá a oportunidade para moradores de favelas experimentarem um grande evento gamer, que, comumente, acontece em grandes centros, como São Paulo, Nova Iorque e outras partes do mundo”, defende Danilo Costa.
Competidores jogando a final de Valorant na Copa AfroGames
Divulgação/AfroReggae
Para além do entretenimento, Danilo exalta o papel social que a Copa AfroGames tem na relação entre pessoas que vivem em comunidades marcadas pela presença de facções criminosas rivais. “É também um espaço de convívio. Aqui, vemos jovens de diversas comunidades que, se não fosse esse espaço do AfroReggae, não poderiam conviver. Isso por conta da situação de conflito nas comunidades urbanas que vivenciamos no Rio de Janeiro hoje”.
Entre as modalidades da terceira edição do evento, estavam: Valorant, Free Fire e Fortnite. Confira os vencedores de cada jogo:
AFG Timbau, do Morro do Timbau (Maré), foi campeã de Valorant;
O time Blackout, do Cantagalo, venceram no Free Fire;
A dupla Winx, do Salgueiro (de São Gonçalo, cidade vizinha do Rio), ficou com a taça no Fortnite.
A torcida também fez barulho na Copa AfroGames
Divulgação/AfroReggae
Centros de treinamento do programa AfroGames – trocando UPPs por espaços de aprendizado
O AfroGames surgiu em 2019, a partir de uma oportunidade que o AfroReggae identificou para atualizar sua grade oficial. Embora a ONG atue com cultura, arte e educação desde 1993, utilizando-as como ferramenta de transformação social, nos últimos dez anos o projeto começou a atualizar sua estrutura para fortalecer a atuação da organização na área digital.
Atualmente, o AfroGames conta com seis centros de treinamento do AfroGames em diferentes favelas: Cantagalo, Morro do Timbau, Nova Holanda, Vigário Geral, Mandela e Salgueiro (São Gonçalo), com sede oficial na Lapa. Essas unidades trabalham nos jovens habilidades que vão muito além de visão estratégica e habilidades nos games. Os adolescentes também são conscientizados sobre outros aspectos do mundo digital, como comportamento online, cyberbullying, letramento racial, inglês técnico, entre outros.
Unidade do programa AfroGames na comunidade do Mandela, localizada na zona norte do Rio
Divulgação/AfroReggae
De acordo com Danilo, o AfroReggae ainda pretende inserir esses adolescentes no mercado de trabalho, desenvolvendo neles aptidões para se adaptarem às demandas da sociedade atual, em que a internet ganha cada vez mais protagonismo. Cada centro de treinamento tem sua história particular. O espaço onde hoje funciona a unidade da favela do Mandela, por exemplo, abrigava anteriormente uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).
Unidade AfroGames do Mandela detalhada
Divulgação/AfroReggae
Mas em 2025? Sim, baixa diversidade entre pro-players nos torneios ainda é um desafio
Segundo pesquisa do Pesquisa Game Brasil (PGB), voltada para os perfis de consumidores de jogos digitais no país, 53,2% do público consumidor é feminino. Outro dado relevante é a presença de pessoas que se identificam como pretas e pardas, que representam 43,9% dos consumidores.
Porém, ao observar rapidamente os cenários profissionais de jogos eletrônicos no Brasil, é possível perceber que esses números nem sempre se refletem no mercado. No ranking dos jogadores presentes no início do CBLOL 2025, por exemplo, é notória a predominância de homens brancos.
Outro ponto que dificulta a diversidades nas competições é a necessidade de um investimento maior em PCs gamers – no caso de jogos de computador. Afinal, como treinar e aprimorar as minhas habilidades em um jogo, se não tenho uma boa máquina para isso? Títulos como Free Fire, que é um jogo gratuito de celular, costumam ser mais acessíveis e diversos.
Ranking dos jogadores presentes no início do CBLOL 2025, com presença notória de homens brancos, o que mostra a baixa diversidade de gênero
Reprodução/X
Para Danilo, o cenário atual é de retrocesso. “As lan houses deixaram de existir, mas a necessidade de acesso permanece. Esse jovem ainda não tem condições de adquirir esses equipamentos, então ele passou a acessar a internet pelo celular. Apenas o acesso pelo celular aumentou. No acesso ao computador, infelizmente, não houve avanço, porque o preço aumentou, as lan houses fecharam… então, de alguma forma, tivemos um retrocesso.”
Em parceria com a Dolby Atmos, a ONG oferece equipamentos de última geração aos jogadores. “A inovação pode nascer em todos os lugares onde há talento, vontade e propósito… Acreditamos no poder do entretenimento como ferramenta de transformação, inclusão e geração de oportunidades reais”, defende o Content Relations Manager Latam da Dolby, Giovanni Asselta.
Nota do repórter
Há relatos que precisam ser contados. Ao sair do evento, vi um menino sorridente segurando uma medalha. Ele não me era estranho. Percebi, então, que era Alysson, campeão de Valorant com a AFG Timbau. Reunido com pessoas que pareciam ser seus familiares, o jogador demonstrava estar em êxtase — sorria, saltitava de alegria e contava para as companhias sobre a final contra Vigário Geral. No fim, não é sobre medalhas, mas sobre memórias criadas a partir da possibilidade dessa experiência.
Fim da Copa AfroGames, com jogadores, torcedores e organizadores
Divulgação/AfroReggae
Com informações de AfroReggae e Pesquisa Game Brasil
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